Logo
Home
>
Análise de Mercado
>
Empresas familiares buscam inovação para manter competitividade

Empresas familiares buscam inovação para manter competitividade

22/10/2025 - 20:27
Yago Dias
Empresas familiares buscam inovação para manter competitividade

Ao longo de gerações, as empresas familiares se consolidaram como pilares essenciais da economia brasileira. Entretanto, diante das rápidas transformações tecnológicas e das exigências do mercado global, esses negócios enfrentam o desafio de renovar práticas e mentalidades. Neste artigo, exploramos os principais obstáculos, dados relevantes e caminhos práticos para a competitividade, oferecendo um guia para empresários e sucessores que desejam aliar tradição e modernidade. Com insights fundamentados em estudos recentes, mostramos como a aliança entre legado e inovação pode garantir a perenidade e o crescimento sustentável das empresas familiares no Brasil.

O cenário e os desafios atuais

As empresas familiares representam cerca de 60% do PIB brasileiro e são responsáveis por milhões de empregos diretos e indiretos. Entretanto, a maioria ainda convive com um significativo atraso na transformação digital. De acordo com pesquisa da PwC em parceria com a Fundação Dom Cabral, apenas 15% dessas empresas tinham a transformação digital em dia até 2021. Essa realidade expõe a urgência em modernizar operações, sistemas e processos, reduzindo a lacuna em relação a concorrentes mais ágeis e tecnológicos.

Além disso, muitos empreendedores da geração baby boomer e da geração X valorizam estabilidade e controle rígido de custos, o que pode resultar em resistência a mudanças. Esse perfil tradicional de gestão, aliado à falta de delimitação clara entre família, propriedade e gestão — o modelo dos três círculos —, frequentemente gera conflitos de interesse e dificulta decisões estratégicas. Por fim, o planejamento sucessório ainda é negligenciado por diversos grupos familiares, ameaçando a continuidade e o legado dos negócios.

Outro ponto crítico é a falta de planejamento sucessório estruturado. Em muitos casos, a passagem de bastão entre gerações ocorre de forma improvisada, sem critérios claros de seleção e treinamento dos herdeiros. Isso pode resultar em rupturas, quebra de confiança e até disputas judiciais que comprometem o valor da empresa. Para evitar esses problemas, é fundamental estabelecer um protocolo de sucessão, que inclua mentoria, avaliações periódicas e envolvimento gradual dos sucessores na tomada de decisões.

A importância estratégica da inovação

No atual ambiente competitivo e globalizado, a inovação deixa de ser um diferencial para se tornar requisito básico de sobrevivência. Empresas que investem em novas tecnologias e revisitam processos internos conseguem reduzir custos, otimizar estoques e criar produtos e serviços ajustados às demandas do mercado. Nesse cenário, a adoção de metodologias ágeis, análises de dados e design thinking contribui para acelerar ciclos de desenvolvimento e fortalecer o relacionamento com clientes e fornecedores.

Além da tecnologia, a verdadeira transformação envolve mudança de mentalidade e estrutura organizacional. A Inteligência Artificial (IA), por exemplo, permite o mapeamento de riscos e demandas, automação de processos e decisões baseadas em dados, elevando o nível de profissionalismo na gestão. Essa abordagem não apenas prepara o negócio para crises e oscilações do mercado, mas também facilita o processo de sucessão, ao criar um legado de governança eficiente e transparente.

Estudos indicam que empresas familiares que investem em inovação apresentam crescimento de receita até 30% superior àquelas que mantêm estruturas rígidas. O engajamento dos colaboradores também se eleva quando há abertura para sugestões e experimentação, criando um ambiente onde a criatividade é valorizada e convertida em resultados concretos. Nesse sentido, a cultura de inovação deve caminhar lado a lado com políticas de reconhecimento e recompensas alinhadas aos objetivos estratégicos.

Caminhos práticos para a competitividade

Para transformar desafios em oportunidades, as empresas familiares podem adotar algumas práticas testadas e aprovadas por organizações de sucesso ao redor do mundo:

  • Aliança entre legado e inovação
  • Profissionalização da gestão
  • Fortalecimento da governança corporativa
  • Educação da nova geração

Cada prática deve ser adaptada à realidade e ao tamanho da empresa. Enquanto algumas organizações podem iniciar por projetos-piloto de digitalização em setores específicos, outras já contam com infraestrutura para escalar soluções tecnológicas de ponta. O mais importante é definir metas claras, prazos e responsáveis, garantindo a visibilidade dos resultados e permitindo ajustes rápidos.

A profissionalização da gestão e compliance envolve a implementação de políticas claras de compliance, controles internos e indicadores de desempenho (KPIs). Esses elementos proporcionam maior transparência e ajudam na identificação precoce de riscos, reduzindo a exposição a passivos e litígios que podem comprometer o patrimônio familiar.

O fortalecimento da governança corporativa passa pela formalização de processos de solução de conflitos, definição de regras de sucessão e planos de carreira para membros da família e colaboradores. Ao estabelecer normas claras de participação e remuneração, é possível alinhar expectativas e manter o foco nos objetivos de longo prazo.

Para adotar tecnologias de forma eficaz, é recomendável começar com diagnósticos internos de maturidade digital, identificando gaps e oportunidades. Em seguida, desenha-se um roadmap de iniciativas, priorizando aquelas que tragam maior retorno sobre investimento, como automação de processos repetitivos ou análise preditiva de vendas. Acompanhamento constante e feedback do time são essenciais para refinar as ações e aumentar a aderência às mudanças.

O futuro das empresas familiares

No horizonte, as empresas familiares que conseguirem incorporar a inovação em sua cultura e processos estarão melhor posicionadas para enfrentar crises e aproveitar novas oportunidades. A transição de uma postura de “sempre foi assim” para uma cultura de experimentação e inovação constante exige liderança comprometida, investimentos em capacitação e disposição para assumir riscos calculados. Esse movimento transformacional tende a gerar ganhos significativos de produtividade, agilidade na tomada de decisões e maior atração de talentos.

As novas gerações, cada vez mais conectadas e com acesso a informações globais, trazem à mesa competências digitais e visões inovadoras que podem impulsionar os negócios para patamares inéditos. No entanto, para aproveitar esse potencial, é necessário promover o diálogo intergeracional e combinar experiência e renovação. A criação de laboratórios de inovação internos, hackathons e parcerias com startups são iniciativas que podem acelerar o processo de transformação e atrair talentos jovens.

Em suma, ao harmonizar tradição e vanguarda tecnológica, estabelecer governança sólida e investir no desenvolvimento das próximas gerações, as empresas familiares estarão preparadas para trilhar um caminho de sucesso sustentável. O momento de agir é agora: transformar legados centenários em organizações modernas e resilientes, prontas para escrever novos capítulos de inovação e crescimento no Brasil e no mundo.

Yago Dias

Sobre o Autor: Yago Dias

Yago Dias