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Empresas familiares investem em governança para captar recursos

Empresas familiares investem em governança para captar recursos

26/04/2025 - 01:21
Robert Ruan
Empresas familiares investem em governança para captar recursos

As empresas familiares brasileiras enfrentam hoje um momento decisivo em sua trajetória. Para sobreviverem à concorrência acirrada e acessarem linhas de crédito mais vantajosas, elas têm apostado cada vez mais em estruturas sólidas de governança corporativa. Neste artigo, analisamos o cenário econômico, as práticas de governança que se destacam e o impacto direto na captação de recursos.

Com base em dados recentes do IBGE, SEBRAE e pesquisas de consultorias internacionais, mostramos como essa transformação pode garantir a perenidade dos negócios ao longo das gerações e impulsionar o crescimento sustentável.

O cenário das empresas familiares no Brasil

As empresas familiares representam cerca de 90% das companhias instaladas em nosso território, respondendo por 65% do PIB nacional e por 75% dos empregos formais. Apesar dessa expressiva participação, apenas 30% delas alcançam a terceira geração de gestão, o que evidencia os desafios de sucessão e continuidade.

Quanto ao formato societário, 41% operam como sociedades limitadas (Ltda.) e 38% como sociedades anônimas de capital fechado. Em 51% dos casos, o controle acionário reside em holdings familiares ou em pessoas físicas, demonstrando a necessidade de estruturas claras para separar os patrimônios e evitar conflitos.

Essa realidade revela que, embora o impacto econômico seja inegável, há um caminho a percorrer para profissionalizar processos e consolidar práticas que atendam às exigências de bancos, fundos e investidores externos.

A importância da governança corporativa

Investir em governança corporativa tornou-se um requisito frequente em operações de crédito e captação de investimentos. Instituições financeiras e fundos de private equity buscam empresas com transparência em seus processos decisórios e compliance robusto.

  • Aumento consistente da confiança dos investidores
  • Melhor avaliação de risco e condições de crédito
  • Facilitação de operações de fusões e aquisições

Esses benefícios não se traduzem apenas em vantagens financeiras imediatas, mas também em maior segurança na gestão de crises, redução de conflitos internos e fortalecimento da marca perante clientes e fornecedores.

Práticas recomendadas de governança

Entre as práticas que se destacam, o estabelecimento de conselhos de administração independentes aparece como uma das mais efetivas. Segundo pesquisa do ACI Institute e do Board Leadership Center da KPMG, 55% das empresas familiares que adotaram essa estrutura realizam mais de dez reuniões anuais, alinhando parâmetros de desempenho e estratégias de longo prazo.

Outra prática crescente é a separação clara de patrimônio pessoal e empresarial, frequentemente implementada por meio de holdings familiares. Isso reduz riscos judiciais e facilita a atração de investidores externos.

Adoções adicionais incluem comitês de compliance, políticas de sucessão documentadas e códigos de conduta internos, garantindo uma gestão alinhada às melhores práticas do mercado.

Impacto da governança na captação de recursos

Empresas familiares que aprimoram suas estruturas de governança apresentam, em média, aumento no faturamento e na lucratividade, mesmo em cenários econômicos desafiadores. Dados de 2023 indicam crescimento de dois dígitos no número de colaboradores e nos investimentos em inovação.

Com as práticas de governança bem implementadas, esses negócios conseguem negociar condições mais favoráveis de crédito junto a bancos, além de atrair fundos de private equity, family offices e até considerar abertura de capital no mercado de capitais.

  • Bancos comerciais nacionais
  • Fundos de private equity e venture capital
  • Family offices especializados em long-term investment
  • Mercado de capitais (B3)
  • Agências de fomento (FINEP e BNDES)

Cada uma dessas fontes avalia criteriosamente as práticas de governança antes de aprovar financiamentos ou aportes, reforçando o papel da profissionalização na atração de recursos.

Casos de sucesso e perspectivas futuras

Um exemplo emblemático é o de uma empresa do setor alimentício do interior paulista, que estruturou um conselho de administração com três membros externos. Em menos de dois anos, conquistou linhas de crédito de até R$ 50 milhões para ampliação de uma nova planta produtiva.

Outro caso de destaque envolve uma fabricante de componentes automotivos no Rio Grande do Sul. Após renegociar seu formato societário por meio de uma holding, iniciou contato com um family office e angariou aportes para investir em pesquisa de novos materiais.

Essas histórias mostram que profissionalização da gestão familiar e clareza nos processos decisórios são alavancas poderosas para o crescimento sustentável.

Para os próximos anos, a expectativa é que mais empresas familiares adotem conselhos consultivos, políticas de sucessão formais e programas de compliance. O desafio está na mudança cultural, na disposição para investir em consultorias e na formação de líderes preparados para superar conflitos internos.

No entanto, o retorno financeiro e estratégico, bem como a preservação do legado familiar, são motivadores fortes para a implementação dessas iniciativas.

Em um Brasil cada vez mais competitivo, as empresas familiares que abraçam a governança corporativa como um diferencial estão preparadas para transformar desafios em oportunidades e perpetuar seus negócios por gerações.

Robert Ruan

Sobre o Autor: Robert Ruan

Robert Ruan